Chikotan (2012) / Skirt no naka

SAYONARA-NOSTALGIA
4 min readJan 18, 2022

Let’s chikotan!

Quando eu comecei a namorar, acabei emendando três relacionamentos um no outro, seguidos, sem tempo pra refletir a respeito. Isso fez com que no final de 2012 eu estivesse emocionalmente exausto e achando que deveria tirar um tempo para desenvolver autoconhecimento não me envolvendo com ninguém. Era uma maneira de não me machucar, percebo agora.

Toda vez que eu tentava me conectar com alguém, acabava aprendendo algo sobre mim, mas era sempre a duras penas. Eu sofria feito um condenado com mais de 20 anos nas costas para no fim descobrir algo que a maioria das pessoas explora na adolescência. Queria manter minha individualidade sabendo que, pra me conectar com outros, precisaria me mostrar disposto a acessar outros tipos de coisas. Dizia estar satisfeito em ser um outsider querendo desesperadamente encontrar um grupo e me sentir aceito. Fazer parte de algo.

Acabei divagando demais mas o gancho que queria puxar é que o Skirt no naka foi uma banda formada no Ensino Médio por colegas de classe no melhor estilo K-ON! (eu nunca vi esse anime). Na época a banda se chamava Still Flag e, num dos primeiros shows após se formarem, elas anunciaram o fim da banda. O quê?! Mas já? Após uma pausa, trocaram de roupa para o uniforme camisa-branca-e-saia-vermelha e anunciaram “Muito prazer, somos o Skirt no naka!”.

Dois anos depois disso, o Skirt no naka também acabou (!), e a vocalista formou outra banda, chamada Yuyum, que… Acabou depois de lançar o primeiro álbum! Não dá pra saber os motivos por trás dessas decisões, mas impossível não traçar um paralelo com minha história de relacionamentos e tentativas de conexão…

O Skirt no naka é uma banda que assume as partes mais obscuras da própria personalidade e as exibem com orgulho — se você me ama, é isso que vai ter que aturar. Você aguenta? É libertador ter uma banda tão criativa e diferente, sem muita preocupação em soar afinadas ou mesmo em sintonia — as três vocalistas muitas vezes tornam as músicas ainda mais caóticas, e toda essa potência estranha está estampada nos versos que abrem a lead trackSakadachi Onna’ (‘Mulher de Ponta Cabeça): “Pega a Torre de Tóquio e enfia no cu!”.

Sakadachi onna

Eu não sei vocês, mas eu não consigo resistir a meninas japonesas fazendo um som barulhento e gritando loucuras num microfone. E o conteúdo das músicas do Chikotan é tão estúpido que suspeito de quem não se sinta conquistado na primeira audição.

A primeira música é um drama sobre comer uma refeição preparada pelo cara que você tá a fim e não ter autoestima pra falar pra ele que você não gosta de pimentão! A terceira faixa é sobre inventar um namorado imaginário (esse é literalmente o título da música), ficar frustrada por ele estar transando com outras pessoas (!) e então desejar ser morta por ele (!!) para poder virar um encosto e assim nunca mais se separarem (!!!).

Mousou kareshi LIVE

Assim, pare um instante. Leia novamente o assunto da música número três do álbum. Assista à performance insana delas ao vivo. Isso faz algum sentido? Porque quando eu começo meus devaneios sobre algum príncipe encantado, minhas neuroses logo me conduzem a uma lista de motivos que fariam essa pessoa inexistente me trocar por um amigo que também é imaginário! Quando dou por mim, tem todo um dramalhão na minha cabeça em que todos estão felizes e acompanhados e eu sou a única pessoa capaz de soletrar sofrimento.

Entendo que esse som mais caótico e menos polido possa não ser do agrado de muitas pessoas, mas o Chikotan foi um dos álbuns que deu vazão à represa de sentimentos engarrafados na minha jornada em busca de mim mesmo. Às vezes não tem problema performar uma insanidade real de modo tão exagerado e camp que ninguém leva a sério — nem mesmo você. É uma forma de terapia, e é gratuita, com apenas 23 minutos de duração.

Juuhakkai kara tonda onna no ko

Por fim, acho importante ressaltar que um álbum tão inusitado e cômico termina numa nota amarga (Fioninha já tinha nos alertado, Nothing wrong when a song ends in a minor key, mas…): a história de uma menina que, sem amigos na escola, sendo vítima do riso alheio, pede desculpas à família e se joga do 18º andar do seu prédio. A tristeza impregnada em nossas vidas cedo ou tarde se manifesta, podendo verter-se de formas inesperadas. O equilíbrio entre euforia desmedida e depressão imobilizante pode ser encontrado aqui.

Feliz aniversário de 10 anos, Chikotan.

Ouça: Spotify, Apple Music.

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SAYONARA-NOSTALGIA

Queria dizer adeus-nostalgia, amanhã seremos mais jovens do que hoje.